terça-feira, 31 de outubro de 2017

O atlas literário de Daniel Mordzinski, o "fotógrafo de escritores

Os escritores são como personagens para Daniel Mordzinski, 57 anos, 40 de fotografia. A exposição Objectivo Mordzinski, que fica até Dezembro na Casa da América Latina, em Lisboa, mostra 200 retratos. 
Como se conta uma história? Por exemplo, escolhendo não a contar e assumindo em vez do papel do contador de histórias a pele de leitor. “Seria pretensioso afirmar que elejo os escritores. O que confere muita liberdade ao meu trabalho é uma soma de casualidades, causalidades”, diz Daniel Mordzinski num castelhano acentuado pela intenção de prender quem o ouve. “Uma vez, em Paris, fui fotografar Paul Auster. Era um daqueles encontros em hotéis de cinco estrelas em que entra um jornalista a cada 20 minutos. Chegou a minha vez e fiquei subjugado por aquela personagem, aquela voz que falava um francês impecável; ele percebeu que não estava em frente de um fotógrafo, mas de um leitor, e, num momento um pouco incómodo, disse-me: ‘desculpe, a conversa está muito interessante, mas...’ e mostrou-me o relógio. Faltavam cinco minutos e continuámos a falar. Não fiz fotos.” Dois anos, depois voltaram a cruzar-se. Auster tinha esquecido todos os encontros daquele dia em Paris, mas lembrava-se do fotógrafo que não lhe fizera uma única fotografia. “Graças a essa não-foto da primeira vez pude fazer fotos únicas dele na cidade literária de Saint-Malo”, conta o fotógrafo argentino ao PÚBLICO no momento em que se prendem às paredes da Casa da América Latina, em Lisboa, as últimas imagens da exposição Objectivo Mordzinski, um verdadeiro atlas da intimidade, resultado de um trabalho de 40 anos e da sua relação com escritores de todo o mundo, sobretudo ibero-americanos.



Paul Auster não está entre os escolhidos no conjunto que Mordzinski trouxe para mostrar na capital portuguesa. São 200 retratos, dos quais 70 são de autores portugueses (Saramago, Agustina, Lobo Antunes, Eduardo Lourenço...). “O espaço é limitado e trouxe imagens que penso que fazem sentido aqui e que, entre elas, possam resultar numa narrativa harmoniosa. Demasiadas fotos matam as fotos”, justifica o fotógrafo, que construiu uma espécie de Rayuela – o jogo da macaca que deu título ao celebre romance de Julio Cortázar – onde se agrupam os portugueses. Na sala contígua está o que se pode chamar de coração da exposição, e o princípio de tudo. Uma figura masculina de rosto ao alto, ponto iluminado em fundo negro; o homem cego na foto a preto e branco é Jorge Luis Borges, e esta é a primeira fotografia de um escritor da vida de Mordzinski. Foi tirada em 1978, era ele estudante na Escola Panamericana de Arte e trabalhava como estagiário num filme sobre o escritor argentino. Confessou-lhe a sua admiração e ousou pedir-lhe para o fotografar. Entretanto instalava-se a ditadura militar na Argentina e Daniel Mordzinski mudava-se para Paris. Ainda não tinha 20 anos.

Alguém que leia 

A fotografia de Daniel Mordzinski tornou-se um dos mais célebres retratos de Jorge Luis Borges. Era a homenagem de um leitor, e seria sempre assim nas fotografias que se seguiram, com o fotógrafo argentino sempre à procura de captar qualquer coisa da essência de um escritor.
Objectivo Mordzinski é uma exposição antológica. No princípio houve Borges e depois é segui-lo. O olhar que agora percorre as paredes é o de Mordzinski sobre a sua própria obra. O que vê ele agora quando olha cada um daqueles retratos, sabendo dos detalhes apagados, editados, invisíveis, do caminho que levou a cada um deles? “Gosto que cada um chegue a uma história a partir da imagem que fiz.”
Em cada foto, há um nome e uma data. “Cheguei à fotografia por amor a literatura. Em criança gostava muito que me contassem histórias até que comecei a contá-las eu. Quando penso numa exposição ou num livro, quando faço uma foto, sugiro ao observador também uma história. Essa história às vezes tem uma leitura cronológica, como aqui.” A seguir a Borges, estão os primeiros retratos. Julio Cortázar, Álvaro Mutis, Francisco Coloane, Ernesto Sábato, Adolfo Bioy CasaresJuan José SaerEduardo Galeano, José Donoso, Guillermo Cabrera Infante, Mario Benedetti, Claribel Alegría, Camilo José Cela e... "O meu poeta preferido”, aponta Mordzinski, parando em frente a outro rosto de um homem, o olho direito dele fixo na objectiva, meio de perfil, enquadrado por um postigo numa porta de madeira. O resto da cara fica na sombra, numa nostalgia atenuada por uma árvore a insinuar sol naquela imagem a preto e branco como todas as anteriores. É Roberto Juarroz. “É um poeta total, é um poeta que me acompanha quando estou feliz, quando estou triste, quando estou apaixonado; é um poeta que sabe ver o que muitos não sabem traduzir, que me ensinou muito com um só verso – 'la luz, toda la luz no alcanza para ver en el fondo la imagen que aparece cuando nadie mira...'. É preciso mais, mais do que fotografia, mais do que literatura, que nada disso vale se não há alguém que olhe, alguém que leia.”

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Halloween no séc. XXI



Dia das Bruxas (Halloween é o nome original na língua inglesa) é uma celebração observada em vários países, principalmente no mundo anglófono, em 31 de outubro, véspera da festa cristã ocidental do Dia de Todos os Santos. Ela começa com a vigília de três dias do Allhallowtide, o tempo do ano litúrgico dedicado a lembrar os mortos, incluindo santos (hallows), mártires e todos os fiéis falecidos.

Acredita-se que muitas das tradições do Halloween originaram-se do antigo festival celta da colheita, o Samhain, e que esta festividade gaélica foi cristianizada pela Igreja primitiva. O Samhain e outras festas também podem ter tido raízes pagãs. Alguns, no entanto, apoiam a visão de que o Halloween começou independentemente do Samhain e tem raízes cristãs.
Entre as atividades de Halloween mais comuns, estão festas a fantasia, praticar "doce ou travessura", decorar a casa, fazer lanternas de abóbora, fogueiras, jogos de adivinhação, ir em atrações "assombradas", contar histórias assustadoras e assistir filmes de terror. Em muitas partes do mundo, as vigílias religiosas cristãs de Halloween, como frequentar os cultos da igreja e acender velas nos túmulos dos mortos, permanecem populares, embora noutros lugares seja uma celebração mais comercial e secular. Alguns cristãos historicamente se abstém de carne no Dia das Bruxas.


Agora com a consciência de escolhas alimentares e não só, o "doce ou travessura" pode tornar-se um grande pesadelo!!


Tradução do cartoon

- "Tem guloseimas sem glúten, senhora?"
-"Não consigo comer nozes"
-"Sou caramelofóbico!"
-"Tenho alergia ao nougat..."
- "Só orgânicos!"
-"Sou intolerante à lactose..."
-"Tem doces sem género masculino nem feminino?"

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Outubro- Mês Internacional da Biblioteca Escolar - "Ligando Comunidades e Culturas"

Programa (clique para ampliar)


As Bibliotecas Escolares de todo o mundo celebram neste mês de outubro o "Mês Internacional da Biblioteca Escolar", segundo os princípios estabelecidos pela International Association of School Librarianship - IASL (Associação Internacional das Bibliotecas Escolares). 

O lema adotado este ano pela IASL foi ""Connecting Communities and Cultures" traduzido para português para "Ligando Comunidades e Culturas".

As bibliotecas escolares do Agrupamento de escolas de Vilela irão desenvolver atividades neste âmbito ao longo deste mês de outubro (ver programa)

Além disso, o Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares, em Portugal, decidiu declarar o dia 24 de outubro como o Dia da Biblioteca Escolar, reservando este dia para a realização de atividades específicas, embora também se levem a efeito iniciativas nos outros dias do mês.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

A biblioteca mais bonita e mais ecológica em todo o mundo fica em Mafra

Os morcegos são o "elo de ligação de uma perfeita harmonia entre o património cultural e natural. Os morcegos são os grandes aliados da preservação dos livros porque comem os insectos e, de uma forma ecológica, resolvem um problema complicado e grave sem o recurso a químicos."


São várias as referencias a nível internacional e vão todas no mesmo sentido: a biblioteca do Palácio Nacional de Mafra é das mais bonitas, mais singulares e com uma natural associação entre a riqueza do conteúdo e a sua beleza.
Curiosamente o destaque da beleza é porque não foi acabada. Foram feitos os preparativos para a pintura e colocação de retratos mas isso não sucedeu.

Um tom suave e ameno, propício para a descoberta dos quase 36 mil volumes. Um acervo único em Portugal e raro em todo o mundo. Há exemplares únicos em Portugal e em alguns casos apenas mais dois ou três em todo o mundo.

A colecção de livros vai do século XV ao XIX e funciona como um verdadeiro repositório do saber na Europa nesta época.

D. João V enviou emissários à procura do melhor que era produzido. Até “trouxeram” uma Bula papal, de Bento XIV que em 1754 permitiu à Biblioteca do Palácio ter livros proibidos.

São ainda algumas centenas e têm uma inscrição onde é feita a referência sobre a proibição. A maior parte incidem em temas religiosos (Reforma) ou temas esotéricos. O terceiro grupo de obras proibidas é sobre temas sociais onde se questiona o poder absoluto do rei e a organização social que pouco depois foi profundamente alterada com a Revolução Francesa.


A última particularidade: os morcegos. São, como afirma Teresa Amaral, a bibliotecária responsável, o elo de ligação de uma perfeita harmonia entre o património cultural e natural. Os morcegos são os grandes aliados da preservação dos livros porque comem os insectos e, de uma forma ecológica, resolvem um problema complicado e grave sem o recurso a químicos.

Para favorecer esta “aliança” os morcegos não são hostilizados, pelo contrario são criadas as chamadas zonas de conforto. Desconhecem-se onde estão as colónias. Estudos permitem concluir que durante o inverno permanecem no interior da Biblioteca e no verão ficam nas árvores.

Aqui encontra elementos sobre a história da Biblioteca, aqui sobre a consulta de livros e, por último, sobre o Palácio Nacional de Mafra.

A biblioteca mais bonita em todo o mundo faz parte do podcast semanal da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
A emissão deste episódio,  A biblioteca mais bonita em todo o mundo, pode ouvir aqui.

Fonte: Viajens

terça-feira, 26 de setembro de 2017

O euducador moderno, por C. S. Lewis

A tarefa do educador moderno não é derrubar florestas, mas irrigar desertos.

Fonte da imagem: BioTerra
Para aprofundares um pouco e conheceres mais sobre vida e obra de C.S. Lewis visita aqui ou o site oficial da Fundação C.S. Lewis

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Todos Pensam de Forma Diferente, e Muitas Vezes Efémera, por Goethe

"Cada indivíduo vê o mundo - e o que este tem de acabado, de regular, de complexo e de perfeito - como se se tratasse apenas de um elemento da Natureza a partir do qual tivesse que constituir um outro mundo, particular, adaptado às suas necessidades. Os homens mais capazes tomam-no sem hesitações e procuram na medida do possível comportar-se de acordo com ele. Há outros que não se conseguem decidir e que ficam parados a olhar para ele. E há ainda os que chegam ao ponto de duvidar da existência do mundo. Se alguém se sentisse tocado por esta verdade fundamental, nunca mais entraria em disputas e passaria a considerar, quer as representações que os outros possam fazer das coisas, quer a sua, como meros fenómenos.


Porque de facto verificamos quase todos os dias que aquilo que um indivíduo consegue pensar com toda a facilidade pode ser impossível de pensar para um outro. E não apenas em relação a questões que tivessem uma qualquer influência no bem estar ou no sofrimento das pessoas, mas também a propósito de assuntos que nos são totalmente indiferentes. "

Johann Wolfgang von Goethe, in 'Máximas e Reflexões'

Fonte: BioTerra

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Aprender a Estudar, por José Carlos Ary dos Santos

Rui Silva - Paisagem Alentejana com Ceifeiros

Estudar é muito importante,
mas pode-se estudar de várias maneiras…

Muitas vezes estudar não é só aprender o que vem nos livros.

Estudar não é só ler nos livros que há nas escolas.
É também aprender a ser livres, sem ideias tolas.
Ler um livro é muito importante,
às vezes, urgente.
Mas os livros não são o bastante para a gente ser gente.
É preciso aprender a escrever,
mas também a viver,
mas também a sonhar.
É preciso aprender a crescer,
aprender a estudar.

Aprender a crescer quer dizer:
aprender a estudar,
a conhecer os outros,
a ajudar os outros,
a viver com os outros.
E quem aprende a viver com os outros
aprende sempre a viver bem consigo próprio.

Não merecer um castigo é estudar.

Estar contente consigo é estudar.

Aprender a terra,
aprender o trigo
e ter um amigo
também é estudar.

Estudar também é repartir,
também é saber dar o que a gente souber dividir
para multiplicar.

Estudar é escrever um ditado
sem ninguém nos ditar;
e se um erro nos for apontado
é sabê-lo emendar.

É preciso, em vez de um tinteiro,
ter uma cabeça que saiba pensar, pois,
na escola da vida, primeiro está saber estudar.

Contar todas as papoilas de um trigal
é a mais linda conta que se pode fazer.

Dizer apenas música, quando se ouve um pássaro,
pode ser a mais bela redação do mundo…

Estudar é muito, mas pensar é tudo!



José Carlos Ary dos Santos (1937-1984)